Magia velha

Poderia escrever que te amo.

Poderia descrever como o Mundo inteiro muda quando estou a teu lado, como o céu fica mais azul, o Sol mais brilhante e as estrelas mais minhas. Poderia sorrir ao dar-te a mão, só pelo simples toque de tua pele àspera na suavidade da minha. Poderia até olhar-te nos olhos e prometer-te uma vida…

Poderia fazer-te crer que já não me deixo enfeitiçar por magia velha. Sim, poderia deixar-te cair nessa triste mentira e ingenuamente te deixarias ludibriar. Sei bem quanto precisas de acreditar mas a alegria estampada em teu rosto enquanto actuo não me chega para prosseguir com a farsa. Será talvez hora do pano cair.

Magia velha deixa raízes profundas que continuam a despoletar desejos cada vez mais fortes até prevalecerem aos mais básicos instintos da mente. Sinto-a a apoderar-se de mim de novo, essa magia que tanto tempo me dominou. Não encontro maneira de a dizimar! Tentei tirá-la de mim e da minha mente e todos os esforços foram inúteis. Tentei que saisse dos meus sonhos, do meu corpo, do meu passado e tudo o que consegui foi alimentar esse fogo que me consome, que me consumiu ao ponto de ser tudo o que me resta e me alimenta. Fogo sagrado e maldito!

No silêncio do desespero o meu nome soa e meus ouvidos tapados de sonhos misturam as vozes. Vens e eu, de tanto querer, confundo as imagens. Teu toque, sinto-o suave, teus olhos são outros já e perco-me numa boca agridoce sem saber quem me abraça. Meu desejo tolda-me os sentidos e afoga-me a mente até à exaustão. Deixa-me,assim, dizer-te que te quero... Poderia dizer que te amo.

A esta Raiva

A esta raiva que me preenche, que me inunda completamente, só a ela escrevo agora. Só a ela vejo, só ela sinto, só ela sou. E no que me tornei, nesta mescla disforme e inquieta de dor, confusão e ressentimento! O que eu fui, e não há tanto tempo assim, e no que ela me transformou… Ira dominadora, ira plena, ira negra, esta ira que é minha e que me tem, tal qual uma marioneta

- Push push another string and here I go, throwing another punch, stepping another line

E afinal raiva de quê ou de quem? De mim, de ti, dele e dela e de nenhum. Do Sol que teima em não aparecer, do vira-vira-vem-vem-puxa-puxa, do passatempo avassalador a que chamo trabalho, do dinheiro que não cai do céu, do “Felizes para sempre” que teimei em acreditar

- Nothing compares to you though, and to the love we feel

Amor esse palpável, eléctrico e denso, que teima em não se deixar inspirar sem suor na pele. Amor crescente na decadência do júbilo e do vício, esse vício que tanto fulgor me dá, tanta ira pela impotência em resistir-lhe, em ser eu e forte de novo. Afogo-me em raiva a cada raiar do dia para em cada romper da noite te ter que inspirar às golfadas, sufocando-me em mim

- Try not to fall asleep to dream, try not to fall to scream, try not to fall at all

Um desejo impotente à sua criação, o de união eterna e plena de almas. A esperança de que a moeda caia do lado errado por uma vez. E a raiva subjacente ao ego.

Nov 2011