Névoa

Corro. Possuída por uma força mais do que eu, tomada por inteiro por algo que não sabia existir, mas que começo a amar. Sinto cada poro aberto, cada gotícula de sangue quente injectado nas veias, como que flechas apontadas ao coração.
Acelero. Mais rápido do que achava conseguir, e cada vez mais veloz. Mais e mais. Mais célere que o vento, tão rápida que não sinto já a chuva que me fustigava em rajadas. Mas quem me conduz assim, para lá de mim própria, como uma marioneta? Movo-me para além do tempo e do espaço e acelero... Acelero mais ainda, mais do que cria humanamente possível... Pois não sou humana já. Extrapolei-me de mim e do coração que batia qual cérebro de uma qualquer máquina infernal. Sou agora névoa. Esta bruma que percorre a noite veloz, que te procura no centro da tempestade, sou eu. E sou plena! Sou mais do que alguma vez desejei ser e cada pedaço do meu ser repentinamente se enche de júbilo e prazer! Mas... Será? Sim! Vejo-te! Ainda como névoa e mais do que eu te cerco e num abraço cerrado te escudo da tormenta até que... tudo cessa. A tempestade desapareceu, a chuva não fustiga já, o vento já não assobia por entre os ramos quebrados e as fragéis folhas das àrvores, eu já não corro...
Regresso a mim, renascida como se nunca antes tivesse vivido. Até o sangue que fazia o meu coração bater não corre já, rendido também a esta imobilidade causada pela tua simples presença, pela luz que emanas.
Liberta já do que fui, vejo tudo de uma outra perspectiva, mais nítida. Olho para a distância, para o horizonte, para o lodaçal onde achava que estava bem, de onde corri, de onde me salvaste...
Acorrento-me assim a ti, e tu a mim, esquecendo o resto do mundo e o que fomos. Agora, somos o Fogo que nos enche o coração, somos a Àgua que chove em nós, Somos a Terra que pisamos e o Ar que respiramos. Somos Vida, somos Eternidade! Somos um só corpo e um só coração, meu anjo... Um dia...

Ti turo@