Mais Uma Vez

Dou por mim mais uma vez sentada em frente a um ecrã em branco e a única coisa que quero escrever é o teu nome...
Será que se o escrever tu o lês?
Não, provavelmente não.
Secalhar já nem sabes que te amo...
Sim, que te amo!
Achas que não?
Achaste que a distância e o tempo me teriam feito esquecer-te?
Nunca.
Vou escrevê-lo.
Vou mesmo?
E se o leres?
Ficas a saber!
Sim, vou escrevê-lo...

TU

O Céu...


Olho o céu, procurando a calma que alcanço sempre que o faço, procurando-te, uma vez mais. Encontro-te, apaziguadora, guardiã...
Mas porque é o céu tão azul? Tu não gosta(va)s de azul! Nem tinhas olhos azuis... Será por isso que azul foi a minha cor preferida? Será por isso que gosto tanto de olhos azuis? Será que procuro fugir de ti?
Não, não pode ser... Ela é tão parecida contigo! O cabelo, os olhos tão castanhos, a maneira de falar... Secalhar é por isso que a amo tanto e tento odiá-la... Porque tem a minha vida de ter a ver contigo??
Só sinto falta do tempo em que eras tudo o que precisava, e eu bastava para continuares, para o teu sorriso. Podemos voltar a esse tempo? É que esquecer-te não consigo... Até no espelho te vejo! Olho-me nos olhos, desesperada por esperança, por esquecimento, e está lá... A minha cicatriz, "a nossa cicatriz", como lhe chamavas. "Uma marca da nossa amizade, de um momento juntas!" e contemplavas-me sorrindo. Dizias que gostavas, que te vias em mim (ah!), que dava carácter ao meu rosto. Nunca gostaste de coisas perfeitas. É por isso que me ama(va)s? Sempre quis ser perfeita para ti, e tu sempre adoraste os meus defeitos (Doce ironia do Destino!).
Desde que foste que tento aperfeiçoar-me (para não desistir?), eliminar os defeitos que tanto adora(va)s... A mania da correcção que te fazia ouvir-me avidamente, a irritação que te punha um sorriso nos lábios (e nos meus, pouco depois), mas não consigo livrar-me daquele que apontavas como o meu maior defeito (entre muitos): amo(-te) demais.
"És a minha menina das contrariedades!" atiraste-me um dia com um sorriso. À minha incompreensão decerto estampada no rosto, respondeste de rajada: "Tens aparência de menina certinha e alma de rebelde!" Não percebi totalmente até tu ires. Pensei que fosse por ter sempre boas notas e um sorriso inocente e estapafúrdio preparado para os meus pais e depois fugir de casa a meio da noite para te secar as lágrimas. Mas não. A rebeldia e a contrariedade? Só a encontrei verdadeiramente quando me deixaste e te odiei pela primeira (e última) vez, sem nunca deixar de te amar, por mais que me tivesses pedido, suplicado, ordenado até...
Deixaste-me aqui, presa ao meu corpo, atada com memórias, debaixo deste céu onde não sei se estás, demasiado azul...


28 Nov 2008